sábado, 30 de outubro de 2010

SOBRE O MARADONA, ESCREVI EM 2009...

É incrível que mesmo tendo dado o ar da graça por aqui em meados de 2008, o filme de Kusturica tenha passado batido pelos fãs de futebol, no Brasil. Em tempos em que a imprensa mais uma vez inventou um "circo" em que Maradona teria desatinado palavras e chavões contra o "rei" e seus súditos brasileiros, às vésperas de um sonoro 3 a 1 da seleção canarinho sobre os hermanos e, estando estes na chamada "degola" da classificação para a Copa da África, vale levantar algumas questões, ao meu ver fundamentais, sobre o evento "anti-maradonismo":

* O filme de Kusturica, longe de ser uma panfletagem de líderes latino americanos (constatação medíocre feita em http://blog.estadao.com.br/blog/merten/?title=maradona_kusturica&more=1&c=1&tb=1&pb=1), é a humanização do homem Maradona, transformado em "deus" por seus fãs argentinos, para um deleite específico de pessoas reunidas em torno de um tema, com garotas de shortinho e cantos líricos de letras cômicas, caracterizando nada mais que a construção de momentos de lazer, algo cabível perfeitamente no imaginário futebolístico (ou será que só no Brasil se pode fazer isso?);

* É impressionante como que o mesmo conglomerado de empresa televisiva, cria com seu corpo jornalístico na TV aberta o fato polêmico, recortando falas do técnico da Argentina e mexendo de forma ufanista na ferida dos brasileiros, tem em outro competente canal na TV a cabo uma equipe jornalística que afirma categoricamente que "desconhece tais provocações";

Gol de mão contra a Inglaterra: nem Pelé fez!

Relembre os detalhes do jogo antológico entre Argentina e Inglaterra em 1986:

* A dor dos reacionários de plantão, não aceita que, frente a Pelé, frequentemente citado como "exemplo de cidadão" ou de causas diversas, um declarado rebelde do futebol como é Maradona, atire em seus desafetos com sua boca incontrolável, sem se preocupar em zelar por uma imagem a ser mantida a duras penas. Assumiu seu vício, sofreu perseguições e, como é de se esperar, foi comparado com o numero "1" e perdeu não somente na instância do futebol mas na "força do caráter". Algo a se pensar pois, se dentro de campo Pelé foi o melhor, fora dele, nada fez para minimizar a desgraça política que seu país vivia na ditadura comandada pelas mãos malditas e assassinas do General Médici. Suas falas, muitas vezes, legitimaram o governo e sua imagem foi usada a exaustão pelos generais. Quando se deu conta já era tarde e nada fez além de ficar emburrado. Maradona assumiu, ainda que de forma ingênua, uma "guerra" também de generais e entrou em campo em 1986 contra a Inglaterra, para de alguma forma, passar a limpo a recente e angustiante história de seu país, sobretudo uma empreitada delirante dos milicos locais na Guerra das Malvinas (http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=917), vitimando civis de farda. E o gol de mão contra os leões da rainha, tão frequentemente mencionado negativamente por Pelé, foi genial! Mão se discute.

Independente da classificação ou não da Argentina para o próximo mundial, Maradona precisa ser visto e compreendido com olhos despidos de bairrismo e comparações de senso comum. Sua arte foi incrível e, como centenas de outros gênios da bola, pereceu ante o final da carreira como jogador, tendo sua humanidade exposta e potencializada. E por obra do panteão mitológico do mundo da bola, felizmente, não partiu ainda de forma trágica, como aconteceu com tantos outros. Se Maradona não é um "deus" na concepção religiosa da vida real, sem dúvida é um dos deuses mitológicos da bola.

Por Adriano C. Tardoque

Trailer "MARADONA": http://www.youtube.com/watch?v=yKJUyxuc-24

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM 19/11/2009.

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