OS “TRÊS MOSQUETEIROS” DE OLIVETTO
Washington Olivetto: o mentor da Democracia Corinthiana |
No livro Corinthians: É preto no branco, escrito em parceria com Nirlando Beirão, Washington Olivetto faz uma "brincadeira" com a questão do torcedor corintiano apaixonado, que sempre tem uma visão própria e peculiar dos fatos, que envolvem a história do clube. Usa páginas brancas para escrever o que chama de “versão oficial dos fatos” (elabora fatos reais com os fatos “desejosos” que envolvem o do clube”) e as páginas escuras, destinadas a “verdade dos outros” (o que de fato ocorreu). Além de um capítulo destinado a Democracia Corintiana, escreve outro ao que chama de Outros heróis da Armada Democrática. Neste, fará uma breve descrição dos três principais jogadores do movimento, Sócrates, Wladimir e Casagrande, buscando associar estes a figuras conhecidas do meio artístico e político, o que viabiliza ainda mais a idéia da construção de personagens ligados as características pessoais dos aos atletas. Compreende-se pelas observações de Olivetto (ainda que, em algumas vezes, fictícias), sua projeção “publicitária” dos jogadores. O primeiro a ser descrito é Walter Casagrande:
“Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones – e também The Clash, Steve Wonder, por aí a fora. Tinha uma queda também pela MPB: Chico Buarque, Baby Consuelo, os Novos Baianos e até os velhos, eventualmente (...) Tênis, cabelo longo e encaracolado – era o que bastava para que o futebol careta passasse a dizer que Walter Casagrande Junior era um rebelde capcioso. Nasceu na Penha, Zona Leste, e nascer na Zona Leste, Ed, a região que mais tem a cara e cheiro de São Paulo é quase certidão de batismo de corintiano (...) Aos dezoito anos, mal se profissionalizara, foi recrutado para uma viagem ao Nordeste pelo treinador do time principal. Era o legendário Oswaldo Brandão, que tinha um coração duro, como veios de madeira de lei. No aeroporto, Brandão mandou dispensar o meninão. Casagrande virou bicho e partiu para cima. Incompatibilidade total de gênios: Brandão disse que não queria mais saber dele, Casão disse que não iria jogar com Brandão. Virou artilheiro em Minas – pela modesta Caldense (...) Tudo isso que agora conto, Ed, é para descrever uma trajetória pouco comum entre os jogadores daqui. Casagrande veio da classe média. Tinha família ajustada, tevê no quarto, aparelho de som três-em-um. Não precisava submeter-se aos caprichos autoritários dos treinadores e dos dirigentes, nem tinha estofo para tanto. Era uma nova geração que, literalmente, entrava em campo (...) Combinava com aquele Corinthians dos novos tempos um sujeito que, afora fazer gol, dizia a verdade. Marcou sete gols numa semana, logo que voltou; quatro numa só partida, contra os papagaios verdes. Com status de ídolo instantâneo, aos dezenove anos ele abria o jogo. “gosto de uma cervejinha, sim. Mas na hora certa” (...) Casagrande foi o ícone da Democracia Corintiana tal qual Che foi o ícone da Revolução Cubana (...) Como ele era nosso revolucionário-padrão, e a atmosfera já estava carregada de uma perigosa eletricidade chamada liberdade, a polícia resolveu forjar um flagra de droga contra ele, vésperas do Natal. Foi aquilo de sempre: promotor, delegado, todo mundo querendo tirar uma casquinha na fama do moço. Ele não se deixou intimidar. Acabou absolvido ”.1
Na verdade, não foi à polícia a maior beneficiada com o “escândalo” que envolvia Casagrande. Todos envolvidos com o processo da Democracia Corintiana souberam tirar proveito do fato ocorrido. A ação afobada dos policiais que o prenderam e acionaram a imprensa, antes de chegar à delegacia, saiu como um “tiro pela culatra”. Logo foi atribuída uma “perseguição” política ao movimento do clube, que acabara de apresentar seu primeiro grande resultado dentro de campo, ao vencer o Campeonato Paulista, sobre o São Paulo, pelo placar de 3 a 1, onze dias antes.2 A opinião pública colocou-se a favor de Casagrande, sobretudo nomes como Chico Buarque e Rita Lee, manifestavam-se na imprensa sobre o fato. Em 5 de março de 1983, Casagrande foi absolvido. Segundo ele, em um debate realizado na PUC-SP, no dia 11 de novembro de 2006: “O que eles queriam era mostrar que tudo era uma baderna promovida por um drogado, um negro e um bêbado”. 3 O “mito rebelde” da Democracia Corintiana estava construído.
Wladimir era um patrimônio do Corinthians. Oriundo das categorias de base do clube, desde 1969 atuava com a camisa alvinegra. Considerado como sinônimo da “raça corintiana” tornou-se um recordista absoluto de atuações na história do clube: 805 jogos (entre os anos de 1972 a 85 e 1987). É também o atleta que mais vezes atuou consecutivamente sem lesão ou contusão: 161 jogos.4
Sua representatividade junto à massa torcedora era emblemática. Como capitão do time, representava a liderança e o exemplo a ser seguido:
“Wladimir, mesmo sorrindo, impunha o respeito devido à proeminência de seu futebol e á retidão de seu caráter. Por isso, no meio de todas aqueles cardeais da bola do Coringão democratizado, quem foi que virou autoridade em campo? Acertou, Ed: ele, o Wladimir (...) Era capitão com direito a braçadeira e grito. Mas era uma fase diferente do Timão – e ele era um capitão sui generis, que dispensava insígnia e ofensas e, aliás, contestava essa própria conotação militar da palavra “capitão”. O certo era que o lateral da Democracia tinha vocação para poder, tanto que, ao descalçar as chuteira, foi dos raros que se preservaram doa palanques – ele e, por uma simétrica coincidência, o lateral do outro lado do campo, Zé Maria (...) eleito vereador de São Paulo por dois mandatos com maciça votação da Fiel (..) No caso de Wladimir, primeiro ele foi convidado para ser o administrador do Pacaembu, que é o requintado estádio decô de nosso glorioso – mas que, como você já sabe Ed, o Corinthians finge às vezes ser da Prefeitura e, portanto, pertencer a todos, para não despertar ciumeira dos bobocas. Vamos fazer de conta que é verdade, Assim como fez de conta Wladimir, em 1989, ao assumir o estádio (...) Em 1996, coroando bela carreira política em que o Corinthians sempre foi seu melhor cabo eleitoral, ele se tornaria o primeiro prefeito negro eleito na cidade de São Paulo. Você pode estranhar, Ed – aí mesmo, em Chicago, Washington ou Atlanta, um negro mandando na cidade já deixou de ser novidade há mais de vinte anos. Aqui, não: a gente ainda se encanta com um doutor com anel no dedo e obturação de ouro no dente (...) A administração de Wladimir foi um primor, como eram de um brilho só seus malabarismos no gramado. Quebrando outra tradição, essa também bem brasileira, não se viu uma única acusação de corrupção ou de favorecimento enquanto ele governou. Os pobres foram sua opção preferencial. Transformou os terrenos baldios da periferia em campos de futebol, distribuiu material escolar, formou treinadores (...) Ser negro, aqui no Brasil, nunca foi fácil, Ed, embora a vida pareça tão alegre, tão cordial (..). No Brasil, houve conflitos sérios, mas a gente preferiu jogar a história debaixo do tapete. Tem, por exemplo, o levante de Zumbi de Palmares, no Nordeste. Zumbi era líder de um quilombo, lugar fortificado para onde fugiam os negros. A tropa imperial os massacrou e Zumbi, em gesto final de rebeldia, se projetou do alto de um rochedo (...) Wladimir nunca viveu do ressentimento e do rancor, mesmo por que tem o espírito de liberdade guardado no peito. Mas insistentemente, desenvolveu a idéia de que era chegada a hora de ampliar a atmosfera da democracia até redutos mais fechados da aristocracia do futebol. Já que o Corinthians estava lotado, resolveu despachar o filho Gabriel para o São Paulo Futebol Clube (...) É duvidoso que alguma virtude viceje. O tal clube do Morumbi é antro de almofadinhas de punho de renda, gente metida a besta, e falar em democracia perto deles é como xingar a própria mãe”.5
Quando fala de Wladimir, Olivetto vai um pouco mais além nas “brincadeiras”. O ex-jogador corintiano realmente foi administrador do estádio do Pacaembú, mas não foi o primeiro prefeito negro de São Paulo. Ao contrário do que “desejou” para Wladimir, Celso Pitta, foi o primeiro prefeito negro da cidade, entre os anos de 1994 a 1998. Sua gestão ficou marcada por corrupção, superfaturamento de obras e extorsões cometidas por fiscais da prefeitura. A questão racial não veio à tona diretamente, o que é compreensível em uma sociedade de racismo velado. É importante observar que mesmo trabalhando em fatos fictícios, Olivetto já deduz que Wladimir enfrentaria a questão do preconceito racial, na posição de político em evidência. Quando se refere a “ampliação da democracia”, citando a ida de seu filho Gabriel para o São Paulo Futebol Clube, que insinua como um “reduto aristocrático do futebol”, onde “é difícil que alguma virtude viceje” e “onde falar de democracia perto deles é como xingar a mãe”, se esquece de mencionar nas páginas negras (“verdade dos outros”) que o Corinthians recusou Gabriel como jogador, e a chance que obteve foi no tricolor paulista. Além de que em 1985, Casagrande se transferiu para o clube do Morumbi, onde foi consultado e ouvido sobre as ações que fazia frente ao seu clube anterior. Olivetto também se esquece de que o São Paulo é um dos poucos clubes brasileiros que cumpre os estatutos de eleições para presidente, que obrigatoriamente deve deixar o cargo ao final do mandato e que as implementações feitas pelo clube nos últimos vinte anos, tem refletido em atualizações políticas, comerciais e esportivas que tem gerado títulos (três Mundiais Interclubes, três Copas libertadores da América e três Campeonatos Brasileiros, destacando os principais). A realidade do Corinthians pós democracia, passa longe de qualquer um destes pontos.
SÓCRATES: A CONSTRUÇÃO DO ÍCONE DA DEMOCRACIA
Sócrates: o "pensador" da Democracia Corinthiana |
Existentes os elementos de novas possibilidades de contrato de futebol, com base na participação de empresas com pagamento de salários via patrocínio; o país em processo de abertura política, possibilitando manifestações públicas (sob vigilância) e ainda um jogador politizado, universitário e com todos os elementos de “desobediência” a rigidez militar, tem-se então a desejosa e útil figura do mito da Democracia Corintiana, cujo próprio nome, remetia ao pensamento e nacionalidade: Sócrates Brasileiro de Souza Vieira e Oliveira, ou simplesmente, Sócrates. Este, logo se tornou à figura central do movimento, exatamente pelas representações que trazia em si: não era exatamente um atleta, na acepção da palavra, pois mantinha hábitos como o cigarro e a “cervejinha”, além cabelos compridos e barba, além de nível superior (medicina – como Afonsinho, ex-Botafogo e "rebelde"), engajamento político (simpatizante do PMDB) e, evidentemente, um craque de futebol. No período da Democracia Corintiana, dentro de campo Sócrates justificava a eterna relação jogador torcedor, fazendo grandes lances e belos gols. Fora de campo, desenvolve suas relações políticas, respaldado com as estruturas propostas pela auto-gestão do clube. Seu destaque frente à massa torcedora como ídolo e ao grupo de atletas como voz, lhe proporcionam uma posição privilegiada nas investidas da mídia.
O jornalista Juca Kfouri, então diretor da redação de uma das maiores publicações do futebol do país, à revista Placar, coordena uma edição em outubro de 1982, com a manchete “Sócrates: Eu, Governador”, cujo editorial, deixa transparecer seu intento frente ao evento:
“Daqui a pouco mais de um mês a torcida brasileira tem um encontro marcado com as urnas. O dia 15 de novembro é a data exata desse saudável momento (...) Até lá os candidatos continuarão buscando votos, as pesquisas cão se aproximar mais da realidade e o torcedor ainda indeciso terá tempo para cumprir o seu dever conscientemente (...) O mundo do futebol não está alheio a este episódio. Como a bola, as eleições também apaixonam o país e os nossos jogadores delas participam cada um a seu jeito (...) Zico, por exemplo, não quis, convidado por Placar, expor um plano de governo para a curiosa hipótese de vir a ser governador do Rui de Janeiro, embora não esconda que seja eleitor do PMDB (...) Já o Doutor Sócrates – que vota igual a Zico, mas se recusa a participar da campanha ostensivamente -, aceitou fazer sua plataforma, dedicando-se com tal seriedade à idéia que atrasou em uma semana a publicação da reportagem (...) Com ele, o gaúcho Cleo, o mineiro Reinaldo e o carioca Paulo Sérgio também fizeram as suas. O resultado (...) é animador. Demonstra claramente o bom nível do futebolista brasileiro e sua generosidade (...) Se o atleticano Reinaldo se mostra muito preocupado com a qualidade de vida do povo, e pouco democrático, todos os outros craques parecem saber dosar uma e outra coisa (...) E pensar que até bem pouco tempo não se tirava uma declaração política dos ídolos do esporte nacional”.6
Bastante otimista o editorial quanto à postura política dos atletas, ditará a mesma tônica na matéria que caracterizará um pano de fundo para a para e exposição de Sócrates, como figura pensadora do processo político, dando-o espaço maior em fotos e texto na publicação, tendo os demais, suas participações reduzidas a quadros com suas falas. O repórter Marco Aurélio Borba cria uma ambientação mais “íntima” com o jogador corintiano, no texto de abertura da reportagem, deixando claro a diferenciação e interesses:
“A política está em todas as cabeças brasileiras, nestes pouco mais de 30 dias que antecedem as primeiras eleições diretas para governadores dos últimos 17 anos. Está na cabeça também, dos profissionais do futebol, dos obscuros aos consagrados. Placar propôs uma questão a quatro craques de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul: o que você faria se fosse governador do seu Estado. O gaúcho Cleo, volante do Inter, resumiu rapidamente duas idéias, em depoimento ao repórter Divino Fonseca, assim como o mineiro Reinaldo, centroavante do Galo, transmitiu ao repórter Rogério Peres idéias socializantes, mas, ao que parece, pouco democráticas (...) Já o goleiro Paulo Sérgio, do botafogo, esquematizou um breve mas abrangente programa, relatado à repórter Maria Helena Araújo. Mas o atacante Sócrates do Corinthians e capitão da Seleção brasileira, foi além do que se esperava. Mesmo ante a insistência deste repórter para que ele desenvolvesse as linhas mestras e deixasse a complementação por conta de um papo mais aprofundado, o Magrão, recusou-se. Quis ele próprio elaborar o seu programa de governo. E o fez, entre viagens, concentrações e algumas broncas amigáveis relacionadas com o atraso na entrega do trabalho. O resultado aí está, digno de um verdadeiro candidato ao palácio dos Bandeirantes.7
Em seu texto, Sócrates faz uma introdução de contexto político com ênfase na democracia e coloca propostas que estão de acordo com as necessidades básicas de todo e qualquer cidadão:
“O ideal político sempre foi um planejamento executivo direcionado para o bem estar de toda a população, não apenas para parte dela. Assim, tentarei colocar as minhas posições sem vincula-las às dos partidos que disputam as próximas eleições (...) Democracia é um direito que devemos exigir. Seu exercício porém, nem sempre é agradável para todos, já que as posições individuais devem ser questionadas e analisadas, antes de se tomar decisões. Após formar sua equipe de trabalho, o Executivo deveria, sempre, atrair todos os segmentos sociais para participarem da execução de seus projetos. Setorizar diretrizes, embora seja mais didático, também é questionável, já que tudo está interligado (...). O brasileiro busca, basicamente, trabalho, educação, habitação, saúde a alimentação (...) Trabalho – é preciso gerar empregos com estímulo dos órgãos financeiros do Estado e com boa utilização da receita públicas, sempre com estudos prévios das diversas regiões do Estado (...) Habitação e solo urbano – o governo deve incentivar a criação de comunidades – com créditos de orientação – para a construção de casa própria. Deve utilizar todos os seus terrenos ociosos (...) deve regularizar todos os loteamentos clandestinos e favelas que já tenham moradores (...) além de criar infra-estrutura básica para essas comunidades, através de luz elétrica, calçamento, rede de esgotos e água encanada (...) Para melhorar o sistema de assistência médica, o primeiro passo é valorizar a profissão, com melhor remuneração e condições de trabalho. Depois, incentivar e financiar a medicina preventiva e a pesquisa (...) Bem aparelhado, um ambulatório pode atender 90% dos casos, evitando o excesso de procura de hospitais, o que acarreta mal atendimento (...) Educação – Primeiro, é valorizar o magistério, com remuneração digna, que elimine a necessidade de acumular empregos e melhore a qualidade do ensino. O governo tem o dever de proporcionar a toda a população em idade escolar o acesso à instrução. Só faremos um grande país se tivermos um povo culto (...) O maior problema do ensino médio é que todos os alunos são orientados para chegar a universidade, o que não só é errado, como torna o acesso a esta mais difícil. O governo deve estimular e valorizar o ensino profissionalizante, tornando-o uma opção profissional de nível idêntico ao superior (...) Alimentação – Num país essencialmente agrícola, o campo deve merecer amplos recursos, e o Estado deve zelar para que o produtor receba preços justos pelo seu produto, além de impedir que ele chegue ao consumidor inflacionado pela presença de intermediários (...) Para evitar a monocultura, o Estado deve dar igualdade de tratamento, em relação aos preços do mercado, a todos os produtos. Além disso, deve utilizar suas terras ociosas para o aproveitamento por pessoas que queiram trabalhar no campo (...) Enfim, todos esses planos podem e devem ser colocados em prática, pois são anseios de um povo que busca o seu bem-estar. Mas só conseguimos isso quando todos tiverem ampla e total liberdade para se expressar, se informar, participar, escolher e, sobretudo, protestar. Isso é viver com dignidade” 8.
Sócrates, que em seu longo e discursivo texto prende-se as demandas básicas do país, não elabora uma idéia de transformação política profunda, omo é o caso de Reinaldo (José Reinaldo de Lima), jogador do Atlético Mineiro, em entrevista, na mesma matéria:
“Primeiro escolheria uma assessoria competente, que é a base de qualquer governo. Depois, mudaria tudo, a partir do sistema de governar , com implantação de uma forma primitiva de socialismo. Aliás, não sei se seria primitiva ou avançada; sei que todos teriam direitos sociais assegurados, mas perderiam um pouco de liberdade políticas. Entre os direitos sociais estariam a saúde, alimentação, educação, emprego e bons salários (...) Sonho com um governo de uma só idéia e um só partido, onde todos estivessem de acordo e tivessem seus direitos sociais garantidos. Os problemas mais sérios das diversas categorias sociais – inclusive jogadores de futebol – teriam de ser solucionados, sem privilégios ou facilidades para nenhuma classe. Apenas a cúpula dirigente teria algumas vantagens naturais e normais” 9
O breve discurso de Reinaldo apresenta um argumento fundamental: como organizar os jogadores de futebol como classe, sendo que no próprio contexto do futebol os contratos das estrelas da bola são diferenciados dos demais integrantes do grupo, como foi visto anteriormente? No seio da Democracia Corintiana, os três principais porta-vozes do movimento dispunham de contratos diferenciados com os patrocinadores, como colocou o próprio Adilson Monteiro Alves ao explicar seus novos investimentos junto ao clube. Se por um lado, o movimento democrático no Corinthians apresenta a questão do poder de voto e escolha nas questões referentes ao elenco, concentração, tática de jogo, etc, por outro o patrocínio das empresas dita suas escolhas e a questão salarial passa a diferenciar os atletas entre estrelas e coadjuvantes.
1 Olivetto, Washington; Beirão, Nirlando. Corinthians: É preto no branco. p.195-197
2 “A prisão em flagrante de Casagrande ocorreu por volta das 20h 30 de quinta-feira, 23 de dezembro de 1982, na Penha, quando conversava com três amigos. Foi levado ao 10.º Distrito e libertado depois de ter pagado fiança de 30 mil cruzeiros. Denunciado com base na Lei Antitóxicos (com pena variável de seis meses a quinze anos de detenção), acabou absolvido pelo juiz da 1a Vara Distrital da Penha, Geraldo Euclides de Araújo Xavier”. Olivetto, Washington; Beirão, Nirlando. Corinthians: É preto no branco. p.208
3 Declaração de Walter Casagrande no Debate “Democracia Corintiana”, realizado em 10 de novembro de 2006, com intermediação de Fernando Abrucio (FGV-SP) e participação de Alex Simão (ex-presidente da Gaviões da Fiel Torcida), Casagrande (ex-jogador), Waldemar Pires (ex-presidente do Corinthians), Wladimir (ex-jogador) no Seminário “Metrópole, identidades e futebol – Uma nação chamada S.C. Corinthians Paulista”, realizado de 06 a 10 de novembro na PUC-SP.
4 Unzelte, Celso. Almanaque do Corinthians. p.133
5 Olivetto, Washington; Beirão, Nirlando. Corinthians: É preto no branco. p.200-202
6 Kfouri, Juca. “Quem disse que jogador não pensa bem?”. Revista Placar. N.º 647 – 15 de outubro de 1982. p-3
7 Borba, Marco Aurélio. “Se eu fosse governador...”. Revista Placar. N.º 647 – 15 de outubro de 1982. p-19
8 Sócrates. “Se eu fosse governador...”. Revista Placar. N.º 647 – 15 de outubro de 1982. p.20-22
9Reinaldo. “Se eu fosse governador...”. Revista Placar. N.º 647 – 15 de outubro de 1982. p.22
Apanhei da formatação! O que deu pra fazer foi isso!
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